2025/11/10

Durão e Balsemão garantidos, Guterres pode estar presente

Os Bilderbergers europeus deverão aproveitar a reunião da Turquia de modo a tentar evidenciar as suas diferenças. O lamaçal do Iraque será revisto novamente, e com Tony Blair a sair de primeiro-ministro, poderá ser dito ao Reino Unido que devem, a todo o custo, fazer o que é necessário para integrar o seu país na Comunidade Europeia

O clube de Bilderberg, que junta figuras cimeiras do poder mundial, político, económico, financeiro e, nos últimos anos, cada vez mais dos media, reúne este ano em Istambul, de 31 de Maio a 3 de Junho, o que pode significar um novo “empurrão” à Turquia, num momento político muito complicado. Curiosamente, a Turquia vai ter eleições legislativas cruciais a 24 de Maio, que podem decidir o braço deferro entre duas concepções de país, um de componente mais islamista e outro mais laico.
Durão Barroso e Pinto Balsemão deverão ser partipantes garantidos na reunião, havendo a hipótese de António Guterres também estar presente. Outros dois nomes portugueses, figuras menos cimeiras, um mais à esquerda e outro mais à direita, também deverão estar em Istambul.. Recorde-se que, no ano passado, estiveram Augusto Santos Silva e Aguiar Branco.
Entretanto, o SEMANÁRIO, em contacto com o mais profundo conhecedor dos meandros de Bilderberg, o espanhol Daniel Estulin, que há muito investiga este clube dos poderosos (sendo autor do livro “O Clube de Bilderberg, ed. Temas e Debates), inteirou-se de alguns pontos quase certos da agenda deste ano.
Primeiro e mais importante, o esgotamento da energia, ruptura conhecida como “Peak Oil”. Os problemas de energia continuam, uma vez mais, a dominar as discussões no seio do Bilderberg de Istambul. O petróleo e o gás são escassos e são recursos não renováveis. Uma vez utilizados não poderão voltar a ser reutilizados. À medida que o mundo evolui e o petróleo e o gás natural vão desaparecendo, enquanto que a procura aumenta vertiginosamente, especialmente com as economias emergentes da Índia e da China, que querem ter todos os privilégios do estilo de vida americano, o Planeta ressente-se nas suas fontes naturais e no seu ecossistema. Atravessamos, de facto, o limiar da produção e descoberta de petróleo. A partir de agora, a única certeza que temos é que a oferta continuará a diminuir e os preços a aumentar. Nestas condições o conflito mundial parece uma certeza. Chegamos a um ponto de não retorno.
Para aqueles que percebem o verdadeiro choque de civilizações que nos espera num futuro muito próximo, o fim do petróleo significa o fim do sistema financeiro mundial, algo que já foi reconhecido pelo “Wall Street Journal” e o “Financial Times”, dois membros quase de pleno direito do círculo restrito da Bilderberg. Por exemplo, o relatório petrolífero da Goldman Sachs – outro membro da elite Bilderberg – publicado a 30 de Março de 2005 aumentou o preço do petróleo para o ano de 2005-06 de 55-80 dólares por barril para 55-105. Aliás, durante a reunião de 2006, os Bilderbergers confirmaram que a sua estimativa do preço do petróleo para 2007-08 continuava a pairar à volta dos 105-150 dólares por barril. Não admira que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso tenha anunciado, há meses atrás, durante a apresentação da política energética da União Europeia, que o tempo tinha chegado para uma era “pós-industrial”.
À medida que o crescimento económico se afunda e que os efeitos do “Peak Oil” se tornam evidentes face ao colapso da civilização, a América terá de renegociar os seus direitos a um estilo de vida que não pode mais financiar. Ao longo do processo, os Estados Unidos serão forçados a desafiar a Europa, a Rússia e a China pela hegemonia sobre o controlo e esvaziamento do hidrocarbono, reservas não renováveis, a maioria das quais estão depositadas no Médio Oriente.
Outro dos temas de Bilderberg deverão ser as relações europeias com a Rússia, não só no que respeita à Europa mas também à Ásia Central. Quanto ao conflito com o Irão, este tema também deverá estar, ao de leve, em cima da mesa. Os Bilderbergers europeus podem, aliás, ter comunicado aos Estados Unidos que, se eles querem guerra com o Irão, terão de a fazer sozinhos. Para além disso, com a França, a Rússia, o Japão e a China a investirem em força no Irão, o mundo desenhou uma linha na areia, e aos Estados Unidos será dito, na conferência, para não a ultrapassarem.
Por outro lado, os EUA e os Bilderbergers europeus deverão aproveitar a reunião da Turquia em 2007 de modo a tentar evidenciar as suas diferenças. O lamaçal do Iraque será revisto novamente, e com Tony Blair a sair do poder, deverá dito ao Reino Unido que devem, a todo o custo, fazer o que é necessário para integrar o seu país na Comunidade Europeia. Por último, deverá ser discutido em Istambul o que fazer para limpar as manchas que caíram no FMI e no Banco Mundial. Os membros Bilderberg norte-americanos querem resolvê-lo na Turquia. A Direcção do Banco Mundial quer Wolfowitz fora. Se ele conseguir chegar à Turquia, poderá apenas sobreviver como resultado de um compromisso de última hora.
Recorde-se que na reunião do ano passado, em Otava, estiveram presentes nomes como – para além dos portugueses Pinto Balsemão, Santos Silva e Aguiar Branco – Carl Bildt, Juan Luís Cébrian, Ahmad Chalabi, Edmund Clark, Kenneth Clarke, Mário Monti, George Osborne, Richard Pearle, David Rockeffeler, a Rainha da Holanda e o chinês Zhang Yi.

Com os olhos nos mais pequenos!

A aprendizagem cultural e as actividades para um público infanto-juvenil são cada vez mais procuradas. O número crescente de actividades e espectáculos para os mais novos merece agora um olhar mais atento. O CCB é uma das instituições com uma aposta mais forte neste segmento, através do Centro de Pedagogia e Animação, que procura incentivar o consumo cultural e a aprendizagem através da sua programação para o público infanto-juvenil. Destacamos agora algumas das experiências que consideramos mais enriquecedoras, para participar durante o mês de Maio.

Nas oficinas do Centro de Pedagogia e Animação do CCB podem encontrar-se algumas actividades que têm por origem ou por fim a leitura. O público-alvo são crianças, pais, professores, contadores de histórias, ilustradores, bibliotecários, todos aqueles que têm alguma relação com os livros. Amanhã, 19 de Maio, durante a tarde, as salas do CPA recebem professores, contadores, ilustradores e bibliotecários. “Contos de meter medo ao susto” é uma oficina de criação literária, através da análise dos objectos mágicos que vivem dentro dos contos que por alguma razão provocam o medo. A partir do livro “A Bruxa Arreganha-Dentes”, das suas imagens e da personagem, far-se-á um trabalho de recontar a história. Será ainda proposto um trabalho de criação de novos objectos mágicos, com os quais se constrói uma nova personagem e um novo conto de meter medo ao susto.
Também amanhã, durante a tarde, realiza-se uma outra oficina para pais e mães que gostam de contar histórias e para os seus filhos. “Histórias para pais e mães” é uma oficina em que é proposto a estes pais um percurso através da história das suas histórias, desde que as ouviram até que as começaram a contar. Esta oficina incide muito sobre o trabalho de voz e de expressão corporal, porque afinal os contos moram no corpo e é com ele que se podem fazer viver os textos que atravessam a nossa vida e que se transformam tantas vezes na nossa própria história.
Simultaneamente, acontece uma oficina de “Histórias para filhos”, onde os mais pequenos contadores de histórias se preparam para contar uma história aos pais e mães que precisam dela para viver e para adormecer.
No domingo também há uma actividade especial e cujo formato se tem vindo a repetir. “O Mercadinho da Primavera” é feito para meninos e meninas de todas as idades. A ideia é trazer tudo de casa: brinquedos, livros, comidinhas, canções, histórias. Qualquer coisa para a troca que se efectua nos jardins do CCB.
“Biblioteca de Mala Aviada” é para crianças a partir dos seis anos e outra actividade que tem como fim o impulso da leitura. Durante os meses de Maio e Junho, a biblioteca poderá ser usada em três formatos: a “Mala Aviada 1” consiste na ideia do professor ir buscar a mala ao Centro de Pedagogia e Animação (CPA) e pode utilizá-la na sua sala de aula como desejar, durante uma semana; a “Mala Aviada 2” proporciona o inverso, as crianças deslocam-se ao CPA e a mala passeia nas redondezas do Centro Cultural de Belém, com um bibliotecário especializado; por fim a “Mala Aviada 3” é a última hipótese, em que a mala se desloca à escola com um bibliotecário especializado. Esta biblioteca terá uma vida imensa, desaparecendo e reaparecendo em malas de viagem. Podem partir em qualquer direcção, desde Belém até ao ponto mais a norte de Portugal.
Dentro destas malas encontram-se mais que livros, encontram-se alimentos para a vontade de ler livros de outra forma. Os livros preparam-se para se entregarem de novo às árvores que lhes deram origem. A partir de um livro deitado numa mala, as crianças serão convidadas a criar folhas para colocarem numa árvore perto de si, que se transformará numa verdadeira história inventada por todos. Os livros afinal andam atrás da sua origem: a madeira. Quem passar por lá durante esse dia poderá ler um livro, ou apenas uma folha, ou toda uma história. O que interessa é o contacto com os livros.
Ainda em Maio a sala do Centro de Pedagogia e Animação recebe “A Galinha da Minha Vizinha”. Este é um espectáculo com criação e interpretação da companhia Circolando e de Graça Ochoa. Num mundo em que qualquer vizinha tem uma galinha melhor que a minha, costuram-se sonhos. Um espectáculo no qual a casa e o espaço se constroem com amigos imaginários que ocupam as horas livres. Sozinhos sentimo-nos mais livres e conseguimos deixar sair dos nossos baús fechados muitos sonhos e todas as histórias.
Depois de as crianças assistirem ao espectáculo “A Galinha da Minha Vizinha”, propõe-se a realização de uma oficina de dança. onde os principais estímulos para o movimento serão elementos do espectáculo. De 21 a 27 de Maio, para crianças dos 6 aos 12 anos.
E em Junho há mais! Momentos de cultura e de aprendizagem, mas também de diversão e brincadeira. Como estas há outras propostas de várias instituições culturais pelo país, basta estar de olhos postos nos mais pequenos. Um percurso cada vez mais trabalhado ao nível educativo pelas escolas e pelos pais. Não fique aí parado. Participe!

A oposição interna faz tréguas Ferreira Leite cauciona escolha

Manuela Ferreira Leite vai ser a mandatária da candidatura de Fernando Negrão à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, assumindo, com essa atitude, um claro apoio à escolha feita por Marques Mendes.
“Esta é boa notícia para o PSD, que esbate aquela ideia de que o candidato vai fazer uma campanha sozinho e sem meios de apoio, para além do círculo restrito ligado a Marques Mendes. Manuela Ferreira Leite é um peso pesado da política portuguesa e terá explicado, discretamente e sem alardes públicos, as razões por que não podia aceitar ser ela própria a candidata do PSD à Câmara de Lisboa, como seria o desejo inicial de Marques Mendes” – disse ao SEMANÁRIO, exultante, um dos principais dirigentes do PSD.

A escolha de Fernando Negrão é geralmente reconhecida como uma boa escolha, por todos os sectores do partido, não tendo passado despercebido o rasgado elogio que lhe fez Jorge Coelho, no programa “A Quadratura do Círculo” da SIC Notícias. A estratégia da oposição interna, como do PS, é subtil: “Fernando Negrão não merecia ser metido na alhada provocada em Lisboa… por Marques Mendes.” Dito de outro modo – a oposição interna não pode atacar Fernando Negrão, pelo seu currículo e sua postura política bem recente – foi ministro efémero do efémero governo de Santana Lopes. Daí que os santanistas afirmam que se trata de um bom candidato, mas estão convencidos de que “o PSD vai sofrer uma monumental derrota”. Luís Filipe Menezes não segue na mesma linha, mas não deixa de “arrasar” Marques Mendes, como fez ontem no seu artigo semanal no “Correio da Manhã: “Não fora a comiseração de alguma comunicação social subserviente, somada aos analistas que amam o politicamente correcto, e há muito que a direcção do PSD tinha perdido toda a margem de manobra.” Marques Mendes – diz sem citar o nome, “não conseguiu colocar de pé um projecto coerentemente alternativo, mas em contrapartida já não resiste às tiradas avulso de despropositada sofreguidão como a promessa de criar o Ministério das Pequenas e Médias Empresas”.
Sobre o candidato escolhido por Marques Mendes, escreve o fogoso autarca de Gaia: “Finalmente surge Fernando Negrão, com um currículo intocável (…), quer Negrão, quer as bases lutadoras de Lisboa, não mereciam tanta confusão. Contudo, a partir de agora nenhum social-democrata deve deixar de dar o seu contributo para o sucesso da batalha de Julho. A liderança de Lisboa é estratégica e insubstituível para um partido de oposição. O candidato é qualificado. Os militantes são incansáveis. Ainda é possível vencer.”
Por tudo isto, se percebe que, no PSD, o toque é agora a reunir, o que pode confortar Marques Mendes responsável, em última análise, pela escolha. O PSD vai jogar toda a sua artilharia pesada e todos os trunfos a favor e em benefício de Fernando Negrão. Até ao resultado do escrutínio de 1 de Julho, haverá paz interna no PSD. Para Marques Mendes, uma vitória será um estímulo em face da quarta derrota consecutiva que infligirá a José Sócrates. Para a oposição interna, um bom resultado do PSD dever-se-á exclusivamente a Fernando Negrão. Uma derrota humilhante do PSD desenterrará, definitivamente, o machado de guerra outra vez. Teremos de aguardar.

Discurso de Fernando Negrão com cinco pontos “essenciais”
Convidado a meio da tarde de terça-feira, apresentada oficialmente a sua candidatura anteontem, Fernando Negrão teve pouco tempo para preparar o seu discurso de apresentação. Ainda assim deixou algumas traves mestras, que, no mínimo, devem merecer a atenção dos eleitores de Lisboa. É uma peça bem construída e genuinamente baseada na experiência profissional e política que tem tido desde que entrou na vida activa. Daí que valha a pena referir “os cinco pontos essenciais” em que assentará a sua acção se for eleito presidente da Câmara:
– Uma câmara a funcionar de forma transparente, sem suspeitas e sem promiscuidades. “A título exemplificativo – diz – uma vez eleito assumirei pessoalmente o pelouro do Urbanismo.”
– “Quero uma Câmara a dar exemplos (…). Há vários anos que se instalou uma prática de um excesso de assessores do presidente da Câmara e dos vereadores (…), promoverei uma redução drástica do número de assessores.”
– “Quero uma Câmara a defender a sério junto do Governo os interesses e a competitividade da cidade de Lisboa (…) não aceitarei o projecto da Ota (…), em nome dos lisboetas não aceito a teoria do facto consumado.”
– “A situação financeira muito difícil da Câmara (…) desde já quero anunciar que encomendarei um estudo a uma instituição financeira nacional com vista à definição de soluções, metas e calendários concretos, para o saneamento das finanças do Município.”
– “A questão social. Lisboa tem problemas sociais graves; 32 mil idosos vivem em solidão, há muitos bairros degradados. (…) Darei uma prioridade especial à protecção social, ao combate à exclusão social (…).”
Um programa de acção, que vai ser desenvolvido ao longo da campanha eleitoral. Uma campanha de proximidade e de divulgação pública. Onde o PSD vai procurar ter uma grande capacidade de mobilização. O resto conhecer-se-á após o fecho das urnas e a contagem dos votos. Neste momento, em relação a Lisboa, sabendo os riscos, o PSD parece hoje um partido mais apaziguado. Sobretudo, mais unido.

Carmona Rodrigues não se candidata
e recusa apoiar qualquer candidatura

Carmona Rodrigues anunciou, ontem, em conferência de imprensa, que não é candidato nas próximas eleições intercalares à Câmara Municipal de Lisboa
“Tenho recebido inúmeros apoios e incentivos para a minha candidatura”, começou por dizer o ex-autarca, considerando que a cidade de Lisboa tem melhorado nos últimos anos, o que fez nomear várias intervenções operadas durante a sua presidências.
Ainda assim, entendeu não avançar como independente, depois do PSD lhe ter retirado a confiança e apontado Fernando Negrão como o seu candidato. Acompanhado dos “seus” vereadores Gabriela Seara, Fontão de Carvalho e Pedro Feist, anunciou a decisão.
“Só hoje (ontem) saí da Câmara Municipal de Lisboa. Tive de deixar a casa arrumada e mesmo assim ficaram coisas por fazer. Não é possível criar uma equipa em dois dias. Se o calendário fosse diferente a minha posição podia ser outra? Penso que sim, mas não há milagres”.
“Não há condições para me candidatar. Ponderei bem, mas foi esta decisão que tomei. Ponderei bem e espero que me compreendam”, anunciou, aproveitando para, mais uma vez, pedir desculpas aos lisboetas.
Mais uma vez, como já o tinha feito quando anunciou que não se demitia, Carmona Rodrigues voltou a criticar os partidos políticos, numa clara alusão à atitude tomada pelo PSD, pelo qual foi eleito como independente.
“Fui eleito pelo Povo e deposto pelos partidos”, considerou o ex-autarca.
Por outro lado, o ex-autarca de Lisboa aproveitou ainda a oportunidade para referir que não irá apoiar nenhum dos candidatos às eleições intercalares de 1 de Julho.

S. João da Madeira alarmada com efeitos na saúde

O ar que se respira na zona em que está implantada
a metalúrgica da Novolivacast está com níveis de partículas de ferro e outras muito acima dos níveis permitidos legalmente. A empresa já foi alertada, mas o processo de novos filtros para tentar laborar em termos legais só dará resultados em Outubro. Só depois se decidirá se a empresa continuará a laborar ou não. O presidente da edilidade, Castro Almeida, paciente, espera, mas diz que “a Câmara não está na disposição de ter no concelho empresas a qualquer custo”. Entretanto, a população na área teme efeitos nocivos na saúde.

Os portugueses estão a dedicar, cada vez mais, “especial atenção ao ambiente” e há mesmo casos em que “a população, sobretudo fora das grandes metrópoles, fica alarmada com os efeitos na saúde devido à poluição do meio onde vivem”.
O último caso que chegou até nós, respeita ao ar que se respira na área onde está implantada a metalúrgica Novolivacast – a actual designação da antiga Oliva – em S. João da Madeira, que terá atingido “valores de partículas, mormente de fero, acima dos níveis máximos permitidos pela legislação”.
A informação foi avançada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), que terá sido alertada por “preocupações crescentes dos moradores naquela área, que temem pela sua saúde”.
Enquanto a empresa não dá qualquer informação sobre estas queixas de uma Comissão de Moradores (que se constituiu para desencadear o processo de queixa), aquele organismo (CCDO-N) só garante que “até Outubro serão sanadas as dúvidas sobre se a empresa respeita, ou não, as condições ambientais imprescindíveis para laborar”.
De facto, a CCDR-N aguarda os resultados do “estudo à qualidade do ar na zona envolvente àquela indústria”, que exigiu na última reunião técnica – efectuada em conjunto com elementos da Direcção Regional de Economia do Norte (DREN) e da Administração Regional de Saúde (ARS) – uma vez que os últimos dados tinham “concluído que tinham sido ultrapassados os limites fixados por lei no que respeita à emissão de partículas”. Nessa altura, aquele órgão também exigiu à empresa em causa “a implementação de medidas e acções específicas para mitigar aqueles valores excessivos”.
Por outro lado, como o processo de licenciamento ambiental está ainda a decorrer e em aberto até ao final de Outubro, há tempo suficiente para se poder aferir, em termos definitivos, se as condições ambientais de laboração da Novolivacast são seguras para a saúde das populações vizinhas”.
Com o processo a decorrer ainda durante alguns meses, a CCDR-N está convicta que este processo “irá permitir concluir, ou não, pela eficácia das medidas e pela segurança ambiental, dentro das normas estabelecidas pela lei, mormente no que se refere aos efeitos sobre as pessoas da zona de vizinhança da metalúrgica”.
Por usa vez, fonte da DREN veio já informar que “a referida empresa estará já a testar filtros em algumas chaminés da fábrica, para tentar laborar em condições legais e sem prejuízo de ninguém”.

A qualquer preço: não

Face a este tipo de suspeitas, os residentes mais próximos formaram uma Comissão de Moradores, liderada por Adolfo Resende.
Diz: “Não temos certezas, mas nas nossas ruas tem havido muitos casos de cancro e temos receio de que estejam relacionados com a poluição que já vem dos tempos da Oliva”. Adianta que “apesar das promessas, dos novos responsáveis da empresa que sucedeu à primeira empresa, para resolver os problemas, está tudo praticamente na mesma”. Se algo melhorou foi apenas o barulho das máquinas que antes não deixava ninguém dormir, acrescenta Adolfo Resende.
Outros moradores lamentam que “vem aqui muita gente para ver e dizer de sua justiça, mas nada fizeram ou fazem para resolver o problema que acaba por afectar a nossa saúde”. Quanto ao presidente da Câmara de S. João da Madeira, Castro Almeida, garante que está atento e que aguarda os resultados do processo que está em curso para terminar com a poluição. Todavia vai dizendo que “a Câmara não está disponível para ter no concelho empresas a qualquer custo e muito menos quando desrespeitam normas legais de funcionamento e que afectam a saúde das populações”.

A clausura e o luto de Lorca

Uma casa, seis mulheres e Lorca revisitado de forma moderna. O clássico do autor espanhol “A Casa de Bernarda Alba” é adaptado pelo grupo Teatro à Parte que, simbolicamente, homenageia o autor, dando o nome “A Casa de Lorca” à peça. No contexto da Guerra Civil espanhola, o confronto intemporal entre liberdade e repressão é transposto para palco. O SEMANÁRIO aproveitou para conversar com o encenador da peça, Jorge Parente, de forma a desvendar algumas das inovações que o Lorca do século XXI nos traz.

Porquê Lorca, um autor tão desconcertante?
Fazer Lorca é um desafio estimulante para qualquer encenador e para qualquer amante de poesia e depois porque, quando li esta obra, era fascinante ver como Lorca criava uma desenvoltura e agilidade enorme na linguagem, tornando vivas as próprias personagens da peça. Foi, no fundo, a partir da leitura que nasceu a curiosidade por encenar este espectáculo, que fala de sentimentos, de valores e beleza.

Há, portanto, uma preferência pessoal por este autor?
Sim, podia escolher outro e estando a dirigir um grupo amador de teatro não tenho interesse em criar texto próprio, caso contrário estaria a dirigir um grupo profissional de teatro. Eu, de facto, gosto de sentir uma peça a cativar-me ou a motivar-me pelas personagens e pelo texto.

Na sua lógica “desconstruir para construir”, em que pontos pegou para alterar o texto original?
O meu processo de encenação tem sempre essa máxima e isso de facto dá-me grande gozo. Eu vou procurar respostas no texto e depois vou mais longe do que o próprio autor me dá a entender. O gozo de pegar numa peça é para mim cortar cenas, cortar personagens, reinventar outros espaços, dar vozes a personagens que não tinham voz. Na “Casa do Lorca” eu tive a ousadia de criar cenas, mas com uma particularidade que é o facto de as cenas criadas por mim terem sido feitas com base em palavras de outros textos do próprio autor. Nunca palavras inventadas por mim, mas sim palavras do próprio Lorca.

A intenção em colocar os actores como alter-egos das mulheres da casa tem que propósito?
Eu estou a trabalhar com um grupo de 23 elementos onde a maioria são homens. Desse modo, e tendo em conta que as personagens principais da peça são mulheres, que faria aos homens? Houve uma necessidade de criar um espectáculo para todos os elementos do grupo e é esse processo que me dá gozo. Já foram feitas várias versões de “A Casa de Bernarda Alba” mas, de facto, esta forma com que montei o espectáculo é de facto muito minha e original. Ao funcionarem como alter-ego das mulheres, funcionam também como mecanismo de espelho, inverso a cada uma delas e, ao mesmo tempo, duplo de cada uma das personagens. Retirei praticamente os diálogos e transformei-os em monólogos que representam cada uma das filhas. No fundo eles mostram ao público aquilo que elas são, aquilo que escondem e não dizem à mãe castradora que têm. Representam a crueldade, a raiva escondida no inconsciente das mulheres. Funcionam como uma psique daquele universo feminino. Esta é de facto a grande curiosidade pois, mulheres que vivem a esconder os seus sentimentos são aqui demonstradas de forma muito mais provocadora, e o teatro é também feito de provocação.

Acha que no actual contexto social esta peça ainda funciona como espelho da realidade?
Esta peça funciona de facto como espelho. Há uma série de mulheres que podem identificar-se com a peça. No fundo acaba por ser o costume. O luto que a Bernarda mãe provoca nas filhas era na altura um costume real e uma tradição levada a extremos. É dentro deste excesso que leva a que aquelas mulheres sejam altamente reprimidas e que uma série de conflitos interiores nasçam nelas de forma extrema até à morte, até porque a morte está sempre presente em Lorca.

Parecia aliás que Lorca já previa que esta seria a sua última peça…
Esta foi a última peça dele e por isso a peça funciona como homenagem, daí chamar-se a “Casa de Lorca” e não “A Casa de Bernarda Alba”. Pegando numa frase do próprio autor, “depois de morrer, continuarei a viver”. Penso que ele quis dizer com isto para os leitores e para o público continuarem a ler e a acompanhar a obra dele. Seria a forma de ele continuar vivo depois de morto. Inicio até o espectáculo com uma cena inventada em que começa com o fuzilamento dele e onde diz precisamente essa frase. Ao longo da representação ele interfere na peça, não em diálogo, mas num plano simbólico com incidência sobre o universo dele. Ele vai “parir as personagens femininas” que criou.

E a nível cénico como é que criaram a Casa?
Eu trabalho com as imagens e alguém me disse um dia que eu era um “arquitecto do espaço cénico”. Quando pego numa obra, não quero que ninguém crie um espaço por mim. Gosto de fazê-lo. Eu vejo tudo e quando ensaio imagino desde logo o espaço. E nesta peça o espaço é de certa maneira minimalista e aproveito esse facto para o colocar de forma simbólica, tendo como forte presença uma jaula. O lado da jaula representa a prisão e então quis mostrar isso de forma simbólica. São os homens que utilizam mais a jaula, já que representam o lado mais surrealista da peça, ao passo que as mulheres estão no plano naturalista.