2025/11/18

À espera dos primeiros sinais das decisões e das nomeações

Subitamente o País encheu-se de rumores, de sugestões, de boatos e de notícias não confirmadas. O Presidente eleito, no passado domingo, arrumou papéis e rumou ao Algarve, onde descansa, reflecte e vai fazendo, discretamente, os contactos que entende mais urgentes. Na sua casa de Lisboa, e no dia seguinte à eleição, recebeu uma amiga de longa data, que é também jornalista do “Expresso” e da SIC – Maria João Avillez. Mas só amanhã se saberá se o “Expresso” traz algumas revelações sobre o que pensa fazer, no imediato, o novo inquilino do Palácio de Belém. Sintomático é, contudo, o silêncio dos principais colaboradores de Cavaco Silva no período da campanha eleitoral. O que avoluma os rumores…

Ramalho Eanes, futuro marechal da República. É um dos rumores, porventura o que politicamente terá menos impacto. Até agora o ex-Presidente tem recusado essa distinção, mas ele sabe que enquanto viver dificilmente alguém terá essa dignidade. Durão Barroso sondou-o, mas Ramalho Eanes quase que se arrepiava, pois a condição de marechal faria dele um conselheiro especial do ministro da Defesa, que então se chamava… Paulo Portas.
Eanes foi presidente da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva e acompanhou o agora Presidente eleito em várias acções de campanha e foi um dos que não teve receio de pedir a sua eleição à primeira volta. Conselheiro de Estado vitalício, na sua condição de ex-Chefe do Estado, a ser elevado à condição de marechal, permaneceria no activo das Forças Armadas até ao fim da sua vida. Os marechais não passam à reserva. Como quer que seja, alguns obstáculos já foram superados E Ramalho Eanes tem condições novas para alguns protagonismos, numa colaboração estreita com Cavaco Silva. Pode, aliás, ajudá-lo na formação da sua Casa Militar. Aqui também surgiram alguns rumores, um dos quais apontava o general Rocha Vieira para chefe da Casa Militar, o que parece pouco provável, uma vez que não é da tradição presidencial nomear para esse importante cargo um oficial-general na reserva, por mais prestigiado que seja.
Laborinho Lúcio será o futuro procurador-geral da República? Alguns meios próximos de Cavaco Silva dizem que é o nome preferido pelo Presidente eleito, mas ao SEMANÁRIO não possível saber, sequer, se Cavaco Silva já pensou nisso. Alguns meios políticos e judiciais confessam que se trata de um bom nome. É magistrado, foi ministro da Justiça do próprio Cavaco Silva, foi responsável pelo Centro de Formação de Magistrados, conhecerá como poucos as teias complexas da Justiça. Tem fama de ser frontal e incorruptível e é um homem de consensos. É o ministro da República para os Açores, tem coabitado exemplarmente com Carlos César e mantém relações cordiais com o Executivo de José Sócrates. Tem boas condições para substituir Souto Moura, mas é cedo para se saber se é isso que vai acontecer.
Manuela Ferreira Leite, colaboradora essencial do novo Presidente e sua amiga de longa data, que papel vai ter daqui para a frente? Especulações não faltam. Para uns tem o perfil certo para ser chefe da Casa Civil, como o SEMANÁRIO referiu há uma semana. Tem experiência governativa, que é essencial para quem exerce essas funções, mas há quem julgue que Cavaco Silva vai preferir uma pessoa mais nova. Ferreira Leite poderá ser convidada para Conselheira de Estado, na quota de cinco que ao Presidente cumpre nomear. Essa circunstância não inibiria Ferreira Leite de regressar ao palco partidário, onde muita gente suspira por si e a vê como futura líder do PSD e instalada em S. Bento como primeira-ministra.
Alexandre Relvas, o “Mourinho” de Cavaco Silva, nas palavras do Presidente eleito, as quais, aliás, têm sido pretexto para aflorações diversas de ciúme políticos (o SEMANÁRIO testemunhou algumas… que guardará ara memórias…) que também revelam alguma incompreensão por um certo deslumbramento que Cavaco demonstrou ter pelo seu chefe de campanha. “O menino da Católica”, “no PSD ninguém o conhece”, “é arrogante e vaidoso”, foram os epítetos mais suaves que podem ser reproduzidos…
É cedo para averiguar se Alexandre Relvas, com a ajuda de Cavaco Silva, terá espaço de manobra para desempenhar a curto prazo um papel fulcral na política portuguesa. E se fala nisso é porque tem sido lançada à boca pequena a ideia de que Relvas poderia muito bem ser o futuro líder do PSD e chegar a S. Bento a tempo de coabitar alguns anos com Cavaco Silva. (Há, pelo menos, um familiar do novo Presidente, que insinuou essa probabilidade junto de várias personalidades, incluindo ex-ministros de Cavaco Silva. Certamente num acto à margem do conhecimento do Presidente eleito…) Para já o que é certo é que Alexandre Relvas tem compromissos empresariais de que não parece disposto a deixar. Além disso, o novo Presidente, pelo menos para já, não tem o mínimo espaço de manobra para interferir na vida interna do PSD. Além de que, em boa verdade, são excelentes as relações políticas e pessoais que mantém com Marques Mendes.

Encontro de Presidentes E com Sócrates, quando?…

Jorge Sampaio, o Presidente cessante, deve receber nos próximos dias, no Palácio de Belém, o seu sucessor. Apesar de terem sido antagonistas há dez anos, o tempo aproximou os dois homens, que desenvolveram sentimentos de amizade e de respeito. Hoje pode dizer-se, sem receio de errar, que Jorge Sampaio só dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições antecipadas, que haviam de ditar a maioria absoluta do PS e a queda de Santana Lopes, depois de se certificar da concordância de Cavaco Silva. Melhor dizendo, depois de indagar se a ala cavaquista do PSD não levantaria ondas a tal controversa decisão. Essa consulta a Cavaco Silva permaneceu até agora em sigilo, nem Sampaio a revelou nos seus últimos escritos públicos.
É assim de esperar que a transição seja mais do que pacífica e que Sampaio facilite até ao limite, todas as solicitações que lhe forem feitas por Cavaco Silva. Após este encontro serão depois os futuros colaboradores de Cavaco Silva a entender-se com os assessores de Sampaio.
Está a gerar, alguma expectativa, o modo e a forma como Sócrates e Cavaco vão ter o primeiro encontro pessoal. Antes ou depois da posse?
Há 20 anos, quando foi eleito para Belém e antes de tomar posse, Mário Soares convidou o então primeiro-ministro, Cavaco Silva, para um almoço. Cavaco fará o mesmo com Sócrates?
O novo Presidente e o actual primeiro-ministro deverão concertar, entre si, alguns pormenores essenciais no que toca, designadamente, aos convidados oficiais presentes na investidura, a 9 de Março. Sabe-se que, até por contraponto com Mário Soares – tendo em consideração as críticas veladas à pompa e circunstância que rodearam a posse de Soares, que refere na sua autobiografia política -, Cavaco Silva deverá ser muito sóbrio. Ainda assim afluirão a Lisboa a maior parte, se não mesmo a totalidade dos Chefes de Estado dos PALOP, Lula da Silva ou virá ou enviará o seu vice-presidente, Xanana Gusmão, Presidente de Timor, também deverá estar presente. Dos Estados Unidos virá ou o vice-presidente ou a secretária de Estado (a família Bush é amiga da família do novo Presidente português), e seguramente um representante das casas reais espanhola e britânica e, porventura, alguns Chefes de Estado da União Europeia. E todos estes convites devem ser acertados com José Sócrates, que aproveitará a ocasião para algumas conversações de natureza política.PC

Lobo Xavier desafia Ribeiro e Castro a pôr ordem no partido

António Lobo Xavier desafiou Ribeiro e Castro a colocar ordem no Grupo Parlamentar do CDS/PP, o que pode ser interpretado como uma abertura do caminho a Paulo Portas. Ribeiro e Castro tem uma conjuntura difícil pela frente e a circunstância de não ser deputado também não o ajuda. Uma entrada em conflito directo e aberto com a bancada do seu partido ainda pode fragilizar mais a sua posição.

António Lobo Xavier desafiou Ribeiro e Castro a colocar ordem no Grupo Parlamentar do CDS/PP. Esta quarta-feira, no programa da SIC-Notícias, “Quadratura do Círculo”, Lobo Xavier considerou que as declarações de vários deputados do CDS/PP, designadamente António Pires de Lima e Mota Soares sobre as eleições presidenciais e a vitória de Cavaco Silva são contrárias ao discurso e orientação do presidente do partido, Ribeiro e Castro, e dos órgãos do partido. Esta segunda-feira, Pires de Lima considerou que com a eleição de Cavaco, e Sócrates como primeiro-ministro, surge oportunidade para o CDS “ter um espaço muito interessante para fazer um discurso afirmativo e mobilizador” à direita. Pires de Lima ainda referiu que o PP tem de ser autónomo, sem cair na tutela presidencial, rematando que “se a liderança for competente, há um espaço em aberto”, numa provocação clara a Ribeiro e Castro. Por sua vez Mota Soares considerou que sem o apoio do PP, Cavaco não teria ganho, uma declaração idêntica à proferida por Narana Coissoró na noite das eleições. Ambos os deputados também consideraram que Cavaco não deve esquecer algumas batalhas caras ao PP, como a revisão constitucional e as leis laborais, traduzindo as contrapartidas que deverão ser exigidas ao novo inquilino eleito. Recorde-se que tanto Pires de Lima como Mota Soares são muito próximo de Paulo Portas, tendo desempenhado cargos directivos destacados no consulado do ex-ministro da Defesa.
As declarações dos dois deputados são, de facto, contraditórias com as declarações do líder do partido, que não exigiu nada a Cavaco nem estabeleceu metas ou novas linhas estratégicas para o futuro. Foi, neste quadro, que Lobo Xavier fez as suas criticas, chegando a dizer que com ele isso não aconteceria. No tempo da direcção de Paulo Portas, Lobo Xavier foi um importante aliado do ex-ministro da Defesa. Nos últimos tempos, por causa da candidatura de Cavaco, os dois homens divergiram, pelo menos no entusiasmo ao professor. Paulo Portas fez uma timída declaração de apoio a Cavaco, enquanto Lobo Xavier foi muito mais aberto. Há quem diga que Lobo Xavier está vaticinado para liderar um dia o CDS. Mas também há quem afirme que Lobo Xavier e Paulo Portas continuam com grandes pontos de convergência e que o primeiro nunca irá contra a posição do segundo. O facto de Lobo Xavier desafiar hoje Ribeiro e Castro a colocar ordem no partido pode ser mesmo interpretado como uma abertura do caminho a Paulo Portas. Ribeiro e Castro tem uma conjuntura difícil pela frente e a circunstância de não ser deputado também não o ajuda. Uma entrada em conflito directo e aberto com a bancada do seu partido ainda pode fragilizar mais a sua posição. Na hipótese do actual líder do PP entrar em ruptura com a bancada parlamentar, talvez envolvendo processos disciplinares, pode acontecer que os deputados passem a independentes, deixando Ribeiro e Castro ainda mais debilitado. O facto é que, no quadro dos estatutos do PP, os discursos contraditórios entre Ribeiro e Castro e a sua bancada parecem violar o que diz o artigo 56º dos estatutos sobre o grupo parlamentar do partido. O artigo refere que os deputados populares devem conformar as suas posições com a orientação fixada pelos órgãos deliberativos do partido e com as dirctivas emanadas da Comissão Política Nacional. Nos mesmos estatutos também se diz que, sem prejuízo da liberdade de opinião, os militantes devem defender a unidade e o fortalecimento do partido.
Nos últimos meses, a guerra entre o grupo parlamentar do PP, constituído por deputados afectos à antiga direcção de Paulo Portas, e a liderança de Ribeiro e Castro, conquistada já depois das eleições legislativas de Fevereiro de 2005, tem tido vários episódios. Há dois meses, quando se assistia a um crescendo das dissonâncias em torno da candidatura presidencial de Cavaco, os dois sectores chegaram a entrar em conflito por causa de um projecto sobre investigação médica ao nível das células estaminais. A bancada defendeu o projecto e Ribeiro e Castro rejeitou-o, colocando-se à direita dos deputados. Aliás, Ribeiro e Castro, tem surpreendido pelo discurso radical em algumas matérias. O líder do CDS/PP considerou recentemente que “o terrorismo era filho da esquerda” e que Che Guevara foi um assassino.

Cavaco espera ganhar à primeira volta mas está preparado para segunda

“A noite eleitoral da candidatura de Aníbal Cavaco Silva ocorrerá exclusivamente no Centro Cultural de Belém (…) funcionará uma sala de imprensa aberta a partir das 17 horas”. A informação, seca e com os pormenores técnicos destinados à comunicação social foi posta no site do candidato, com tempo suficiente para prevenir qualquer surpresa. Nada é dito como actuará o Professor Cavaco Silva se, como esperam todos os envolvidos directamente na campanha (e o próprio candidato…) for eleito, depois de amanhã, Presidente da República.

Em caso de eleição, é certo e seguro que Cavaco Silva tem preparado o discurso de vitória e deve partilhá-lo com os portugueses de modo sereno e nada exuberante. “As responsabilidades derivadas da eleição começam nesse instante e como Presidente eleito, Cavaco Silva sabe que não pode defraudar todos os que votaram nele, ainda que, como é normal, a chamada maioria presidencial não seja nenhum factor instrumental para o futuro. Essa maioria dissolve-se após o escrutínio” – disse ao SEMANÁRIO um dirigente do PSD que tem acompanhado de perto a campanha.
Como se sabe o Centro Cultural de Belém é o principal ex-libris do consulado de dez anos de Cavaco Silva à frente do Governo e foi utilizado, pela primeira vez, na primeira presidência portuguesa da União Europeia. O local, sendo emblemático, justifica que ali faça quartel general o Prof. Cavaco Silva na noite das eleições. O discurso depois de conhecidos os resultados deverá ocorrer num dos auditórios do CCB. Não foi possível saber se na noite de domingo haverá acesso do público ao CCB, particularmente ao grande auditório, se Cavaco se restringe ao discurso através das Televisões e das Rádios ou se envolverá em qualquer manifestação popular, no caso de ser eleito.
Hoje o último dia de campanha, Cavaco Silva estará na cidade de Lisboa, em dois locais muito movimentados da cidade nos derradeiros contactos com a população. Por volta do meio dia percorrerá a avenida da Igreja, almoça na Cervejaria Trindade e inicia a digestão na Brasileira do Chiado, ponto de partida para um passeio pela Baixa. O Comício de encerramento foi marcado para as 21H30 no Pavilhão atlântico, já que à meio noite tudo tem de estar terminado, para dar lugar ao chamado dia de reflexão, expressamente previsto nas Leis eleitorais. Sábado vai ser, assim , um espaço em que a comunicação social fica como que amordaçada sem poder referir-se a qualquer aspecto, mínimo que seja, sobre qualquer tema relacionado com a campanha, os candidatos, as previsões, as intenções ou até de simples menção social. Essa obrigação é extensiva aos jornais de domingo, com excepção das referencias pontuais e estritamente noticiosas relacionadas com o acto eleitoral. Por isso mesmo, todas as sondagens, inquéritos de opinião ou simples previsões de resultados têm como limite de publicação, esta sexta feira.
Ontem cavaco Silva andou pelo distrito de Viseu, foi a S. Pedro do Sul, e cujo concelho nasceu o antigo secretário geral do PCP, Carlos Carvalhas, com quem, aliás, Cavaco Silva mantém boas relações no domínio pessoal. É que Carvalhas, foi há muitos anos vice presidente de Cavaco Silva, quando este, longe ainda da liderança do PSD, foi Presidente do Conselho Nacional do Plano. E depois foi a Lamego, que é a terra de Fernando do Amaral, presidente da assembleia da República, no tempo do primeiro Governo de Cavaco Silva. Os dois políticos desentenderam-se e tiveram até um conflito que azedou irremediavelmente as suas relações, a propósito de uma deslocação de uma delegação da Assembleia da República ao leste europeu. Fernando do Amaral, hoje aposentado, apoia a candidatura de Mário Soares e não fez como Fernando Nogueira, isto é não se reconciliou com o agora candidato presidencial. Por isso, ontem em Lamego não houve reencontro…
O comício de Viseu, ontem à noite iniciou-se já na fase de impressão desta edição do SEMANÁRIO, pelo não pudemos confirmar o que nos disse um dirigente distrital do PSD: “Viseu vai provar hoje, inequivocamente que não deixou de ser o cavaquistão!” Mais de cinco mil pessoas no comício da cidade de Viriato era a previsão desse dirigente.

Mensagem aos emigrantes
Apelo ao voto nas presidenciais

Com data de segunda feira passada, Cavaco Silva dirigiu uma mensagem aos “Portuguesas e portugueses da Diáspora” onde pede a todos “que votem nas eleições para o Presidente da república” que decorrem nos mais diversos consulados de Portugal espalhados pelo Mundo, entre hoje e domingo.
A mensagem pode incluir-se como uma manifestação de campanha pois Cavaco Silva não deixa de recordar que “o direito de voto dos portugueses não residentes em Portugal nas eleições presidenciais só foi conseguido com grande esforço num processo em que me envolvi convictamente no passado, contra muitos que hoje se afirmam como paladinos das nossas comunidades”
Cavaco Silva revela cinco prioridades “para uma política de afirmação de Portugal no Mundo, em estreita ligação com as nossas Comunidades: Aposta na divulgação da nossa Língua e dos nossos valores Históricos; reforço e participação cívica e política dos portugueses da Diáspora; acompanhamento dos problemas sociais dos emigrantes; valorização dos casos de sucesso nos mais variados domínios; e a melhoria dos instrumentos de ligação política e administrativa com as nossas comunidades”
Nesta sua mensagem, Cavaco reitera os seus compromissos com as comunidades, no caso de ser eleito: Deslocações periódicas às mais diversas comunidades para além de criar “pela primeira vez uma assessoria política para as comunidades portuguesas no âmbito dos serviços da Presidência da República”

Ideias “simples” na “recta final

Numa das suas “Notas do Candidato”, Cavaco Silva disserta sobre”um conjunto de ideias simples, mas ambiciosas que procurará transmitir na fase derradeira da campanha e que são, nas suas próprias palavras:
“Em primeiro lugar; Portugal tem a capacidade, a força interior, para fazer mais e melhor; segundo: Todos temos que entender o mundo todos os dias diferente que vivemos e que, desejavelmente, ajudaremos também a mudar; terceiro: este mundo exige mais de cada um de nós e esta é a nossa maior e derradeira oportunidade; quarto: urge passar a uma fase de tranquilidade política, em que os portugueses se possam concentrar nas grandes tarefas nacionais” E, logo a seguir, entre outras considerações, a seguinte frase: “Tenho procurado ser nesta campanha, a voz da esperança”
É nesta sequência que em Coimbra, anteontem, num vigoroso pedido de apoio, proclamava Cavaco Silva: “Não descansem até ao próximo domingo: Eu quero os portugueses mais unidos e se for eleito serei, indiscutivelmente, o Presidente de todos os portugueses”. Na cidade do Mondego, alguém respondeu: “Coimbra inteira quer Cavaco à primeira”, O repto está lançado, o tempo de campanha prestes a esgotar-se. Como disse Cavaco, esta semana na Figueira da Foz : “Todos têm de ser responsabilizados nesta hora de voto”. Uma frase que em uníssono nacional só merece um “ámen”!PC

Henrique Medina Carreira

No próximo dia 22 deverá ser eleito o próximo Presidente da República.
Atravessamos a crise mais generalizada, mais profunda, mais demorada e mais perigosa dos últimos trinta anos.
A nossa escolha tem agora de ser muito clara: ou queremos continuar como somos e ficaremos cada vez mais pobres, ou aceitamos mudar de vida para sermos mais europeus e mais ricos.
Enfrentamos a derradeira oportunidade democrática em vários anos: pela “conservação” ou pela “mudança”; pelo “marasmo” ou pela “prosperidade”.
O Presidente da República não tem poderes para fazer tudo. Mas tem poderes para estragar quase tudo. Sejamos sérios: sem economia o Estado Social torna-se um arremedo e a Democracia uma caricatura.
Não se brinque com a economia porque os pobres e os desempregados têm direito à vida.
Vamos todos votar no Prof. Cavaco Silva.

João Lobo Antunes
(Mandatário Nacional)

O tempo exige que Cavaco Silva seja Presidente de todos os que aqui vivem, dos que aqui nasceram e dos que para cá emigraram.
Ele traz consigo o conhecimento reflectido e profundo de Portugal, e um entendimento claro das exigências da modernidade. Traz ainda duas qualidades indispensáveis para um estadista – realismo e visão – e um estofo moral que se exprime na coerência entre aquilo em que acredita e aquilo que pratica.
Nunca, em anos recentes, a foi escolha tão clara; nunca, em anos recentes, será essa escolha tão decisiva. Ela é, naturalmente, a escolha de um homem, a escolha de Cavaco Silva, mas é, acima de tudo, uma escolha por Portugal.
Queremos, consigo, construir de novo a esperança.

“CDS pode fazer a diferença e garantir a vitória de Cavaco Silva “

O histórico dirigente do CDS, Narana Coissoró, apoia a candidatura presidencial de Cavaco Silva
e expõe os seus porquês do apoio ao antigo primeiro-ministro. Segundo o ex-parlamentar centrista,
já é tarde para surgir outra candidatura e, neste momento, o melhor para o CDS é assumir a posição
no que considera “a maioria presidencial”, da qual o CDS faz parte. O Conselho Nacional
deste fim-de-semana deverá ser o momento oportuno para os militantes, e não o partido, demonstrarem
o apoio à candidatura de Cavaco Silva. Narana Coissoró destaca a importância do CDS nas coligações
que fez com o PSD, que sem aliança nunca obteriam um resultado tão expressivo.

Que balanço faz das eleições autárquicas para o CDS?
Importa dividir a análise em dois campos: o CDS como parceiro de coligação do PSD e o CDS.

E no caso do CDS?
Correu mal. Feitas as contas tivemos menos votos, menos câmaras. Perdemos percentagem, autarcas. Mas houve uma eleição que correu bem, Maria José Nogueira Pinto, em Lisboa. Que se tornou indispensável para uma maioria.

O resultado obtido por Maria José Nogueira Pinto foi bom?
Foi bom, não pelo número dos votos, mas pela posição de ser indispensável para uma maioria de direita se Carmona Rodrigues a quiser fazer.

E da coligação com o PSD?
Correu muitíssimo bem. O CDS conseguiu entrar nas principais câmaras do País. Temos o vice-presidente da câmara do Porto, vereadores em Aveiro, Cascais, Sintra, Coimbra. Estamos nas principais cidades e além disso conseguimos aumentar o número de autarcas nessas câmaras. Há um ganho.

Fica a sensação que a vitória, nesses municípios, é do PSD e não de uma coligação PSD/CDS.
Sim, é uma ilusão óptica que os grandes partidos sempre tiram. O PSD e o dr. Marques Mendes sabem que sem a contribuição do CDS não teriam essas câmaras e pesaria o facto do PSD não ter os resultados que teve. Tem de se ver outra questão. Ao contrário da ilusão de que o PSD teve muitas câmaras, o PSD teve resultados sensivelmente iguais aos de há quatro anos. Mas, se compararmos os votos, câmara a câmara, o PSD perdeu votos. Tem menos votos, menos autarcas. O PSD teve, isso sim, melhor resultados do que o PS, em 2001 e 2005.

Na sua perspectiva, o PSD teve melhores resultados do que o PS por que fez coligações com o CDS?
Obviamente. Sem as coligações o PSD nunca teria os resultados que teve.

Quanto às presidenciais, já tem candidato?
Bem… os candidatos estão na passerelle. Só falta a 3ª divisão.

O que é a 3ª divisão?
Agora aparece mais um do Bloco a dizer que o Louçã é do aparelho, ele quer ser o revolucionário. Há-de aparecer, normalmente, um do MRPP. O Garcia Pereira. Pode aparecer um de… Há sempre pessoas que jogam, que vão… Esta é uma divisão de aprendizes.

Mas não tem candidato?
Obviamente que tenho candidato. O meu candidato é o melhor candidato que a direita tem, que é o professor Cavaco Silva.

E se surgir outra candidatura, a sua intenção de voto pode mudar?
Não, não muda. Sou contra uma candidatura partidária. O CDS todas as vezes que apresentou uma candidatura partidária perdeu. Foi com Basílio Horta contra Mário Soares, no segundo mandato de Mário Soares, quando este recebeu apoio de Cavaco Siva, que hoje deve estar bem arrependido (do apoio a Soares). Depois, com Ferreira do Amaral, (Basílio Horta) desistiu por um fax. As candidaturas que surgem do partido nunca deram bons resultados. Em segundo lugar, deve ser estratégia do CDS estar na maioria presidencial desde o primeiro momento. Não é na segunda volta que se cola à maioria presidencial.

Não partilha da visão de alguns dos seus companheiros de partido que entendem que Paulo Portas deve avançar?
Tenho alguma dificuldade em compreender esses meus companheiros de partido, porque o Paulo Portas não disse uma palavra. Se quer, se não quer, se pensa, se não pensa. É tempo de mais para as outras pessoas falarem por ele. Tanto quanto conheço o Paulo Portas, nunca deixou os seus trunfos ou méritos em mãos alheias. Se ele quisesse ser, já tinha tempo suficiente para dizer que queria.

Pensa que Paulo Portas não tem espaço político para concorrer?
Espaço político todos têm. Há tantos candidatos. Basta ter mais de 35 anos, ser saudável e ser conhecido.

Faz sentido Paulo Portas avançar?
Por que é que vamos por essas condicionantes? Dou-lhe uma entrevista no dia em que o Paulo Portas disser: “eu avanço”. Nesse dia eu poderei raciocinar sobre um candidato no terreno. Por enquanto, sobre hipóteses, não vale a pena. Já trabalhámos demasiado sobre as hipóteses.

Neste momento, é demasiado tarde para uma candidatura avançar?
Eu entendo que sim. É demasiado tarde. Se por qualquer razão, por uma margem mínima que fosse, Cavaco Silva perdesse a eleição na primeira volta, o CDS seria apontado como principal causador dessa não vitória na primeira volta. O partido ainda não tem uma estrutura no País, para suportar uma candidatura presidencial. É preciso ter um aparelho para apoiar. E, foi sempre a tese do CDS apoiar candidatos que individualmente apareçam. Ao contrário do PS, que fabrica o seu próprio candidato.

O que espera do Conselho Nacional do CDS que começa amanhã? Há uma sensação de que há uma divisão entre CDS e PP.
Há. Efectivamente, há. Basta ver, uma proposta da JP, para fazer um referendo. Mas fazer um referendo sobre quê? Candidatos desistentes? Ou se o Paulo Portas deve avançar?

Como sabe, alguns dos deputados do CDS disseram que para apoiar Cavaco Silva, este deveria ceder a certas posições do CDS. Que comentário faz?
Isto é uma conversa que o Ribeiro e Castro deve ter com o professor Cavaco Silva. Publicamente, o professor Cavaco Silva não pode negociar com ninguém. É um candidato independente, como ele faz questão de ser. É um homem sozinho, que quer disputar as eleições com as suas ideias, o seu manifesto eleitoral. A haver qualquer coisa, naturalmente que o Ribeiro e Castro já lhe falou. O Ribeiro e Castro já disse que já tinha tido duas conversas com ele.

Assim sendo, faz sentido que o CDS, enquanto partido, declare o seu apoio a Cavaco Silva?
Haverá naturalmente um debate (no Conselho Nacional do CDS) sobre se o manifesto eleitoral do professor Cavaco Silva é susceptível, como espero que venha a ser, do apoio dos militantes do CDS, não do partido. Não gostaria que o partido estivesse envolvido na eleição, mas sim os militantes. Não é o partido que vota, mas são os militantes que votam. Como já referi, o nosso partido pode fazer a diferença – como fez a Maria José Nogueira Pinto em Lisboa – de garantir a vitória na primeira volta ao professor Cavaco Silva. O que era um capital grande que o CDS daria para esta eleição.

Não pode haver pessoas no CDS com receio de votar em Cavaco Silva, porque foi com as maiorias de Cavaco Silva que o CDS diminuiu o seu peso político em 1987 e 1991?
Eu sofri isso na pele, porque fui o líder parlamentar do grupo do “táxi” durante 10 anos. Não devo dizer que a maioria absoluta do professor Cavaco Silva não tenha sido feita à custa do CDS. Não foi o partido que mandou votar no Cavaco Silva. Houve muita gente do CDS que na primeira maioria absoluta votou no PSD contra o partido. Incluindo o dr. Ribeiro e Castro. Na altura o nosso slogan com Adriano Moreira era “Pela maioria vota CDS”. O Ribeiro e Castro disse: “se é assim, voto directamente no Cavaco, não preciso do CDS para a maioria”. Depois (Ribeiro e Castro) esteve no Governo, no gabinete de Roberto Carneiro (ministro da Educação de Cavaco Silva). Cavaco Silva não deixou muito boas recordações a muitos militantes, dirigentes locais e nacionais do CDS. Agora as circunstâncias são outras, totalmente diferentes. E, por exemplo, na primeira candidatura presidencial, o CDS não lhe deu o apoio. Muitos fundadores do CDS estiveram com Jorge Sampaio. Eu apoiei Jorge Sampaio. Eram alturas diferentes. Temos de saber em que tempo estamos para decidir. Neste momento não seria aconselhável que a direita se dividisse, que o CDS saísse da maioria presidencial, que o CDS não saísse da maioria da direita.|

BE à zaragata por causa de Fernando Rosas e Joana Amaral Dias

A guerra Alegre-Soares não é o único conflito à esquerda com epicentro nas presidenciais. O SEMANÁRIO sabe que no Bloco de Esquerda o ambiente envolvendo Fernando Rosas e Joana Amaral Dias é muito tenso, por causa do apoio que ambos deram à candidatura presidencial de Mário Soares.

A guerra Alegre-Soares não é o único conflito à esquerda com epicentro nas presidenciais. O SEMANÁRIO apurou que no Bloco de Esquerda o ambiente envolvendo Fernando Rosas e Joana Amaral Dias é muito tenso, por causa do apoio que ambos deram à candidatura presidencial de Mário Soares. Fernando Rosas esteve presente, há um mês, no lançamento da candidatura de Soares, presença que surpreendeu muita gente no Bloco de Esquerda e fora dele. Rosas, historiador conceituado, colabora há alguns anos com a Fundação Mário Soares. Joana Amaral Dias, que já foi deputada do Bloco de Esquerda espantou ainda mais os seus camaradas bloquistas ao aceitar ser mandatária para a juventude de Mário Soares, um cargo de grande projecção, que ombreia com o de mandatário nacional. Rosas e Joana Amaral Dias, cada um com a sua vertente, são duas figuras muito mediáticas do BE, com ocupação de cargos de destaque no quadro do BE, o que, no entender dos maiores críticos do seu apoio a Soares, aumenta as suas responsabilidades políticas.
A linha do Bloco saída da UDP, hoje repreentada destacadamente por Luís Fazenda, é uma das mais críticas do comportamento de Rosas e Joana Amaral Dias, não perdoando não só o pecado político como uma alegada sede de protagonismo, sobretudo na jovem bloquista. A linha da UDP no seio do BE é uma linha mais dura, mais ideológica, de características mais populares. Neste quadro, é mesmo de admitir que depois das presidenciais se queira fazer o ajuste de contas no seio do BE, com eventuais depurações.
No entanto, a tensão bloquista não se restringe ao sector da UDP. No sector trotskista, de Francisco Louçã, também provocou celeuma a posição de Rosas e Joana Amaral Dias. Mesmo alguns sectores da ala mais civilista do BE, com raízes na Política XXI, estão descontentes com a atitude do historiador e da jovem. Por exemplo, há quem diga que Ana Drago, uma das mais activas bloquistas, fiel a certos princípíos, não está nada satisfeita com a posição de Joana Amaral Dias.
O facto de Mário Soares se apresentar com resultados baixos nas sondagens não ajuda Rosas e Amaral Dias, ainda que, qualquer que seja o desfecho da corrida a Belém, as críticas não devam ser abafadas. Se Soares perder, pode estar em cima da mesa a gestão desastrosa da esquerda no dossier das presidenciais, onde Rosas e Amaral Dias deram o seu contributo com os seus desvios soaristas. Se Soares ganhar, há muitas dúvidas sobre a sua acção política com o Bloco, ostracizando a formação política e tendo a tendência de compensar politicamente, muito ao de jeito Soares, quem esteve pessoalmente consigo, ou seja Rosas e Joana Amaral Dias. Este favoritismo pode dar origem a uma guerra pior no BE do que se Soares perder, promovendo convulsões intestinas no BE durante os próximos quatro anos.
Desde a constituição do Bloco de Esquerda este conflito com epicentro nas presidenciais pode representar a primeira dissenção grave no seio do bloco e a sua estreia nas guerras habituais pelo poder. Entretanto, Francisco Louçã, candidato presidencial apoiado pelo Bloco, continua muito activo na sua campanha, fazendo um inteligente “dois em um”. Louçã tem-se desdobrado em iniciativas bloquistas no quadro das eleições autárquicas e vai fazendo “circular” a sua imagem e discurso com vista às presidenciais. Se Jerónimo de Sousa levar a sua candidatura até ao fim, Louçã também o deverá fazer.
Para além das convulsões no Bloco a questão das presidenciais promete uma guerra longa e intensa no PS, sobretudo se Cavaco Silva ganhar as presidenciais. Se o professor ganhar logo à primeira volta, o conflito será maior. Muitos socialistas deverão pedir responsabilidades a Sócrates e à direcção do partido sobre o apoio a Mário Soares. Não só os socialistas que estão hoje abertamente com Manuel Alegre mas também aqueles estão a apoiar Soares mas que gostavam de estar com Alegre, só não o fazendo porque não querem ir contra a linha oficial do partido. Se Cavaco ganhar à segunda, as convulsões deverão ser menores, pelo menos no curto prazo. Se Cavaco fizer um mandato muito activo em Belém, condicionando a activiade do governo e, no limite, conduzindo à sua demissão e à realização de eleições legislativas antecipadas, o conflito no PS pode recrudescer, apontando-se a derrota de Mário Soares como o pecado original da situação política que conduziu à queda do governo. Recorde-se que Manuel Alegre continua a considerar-se o candidato presidencial melhor colocado para bater Cavaco (no contexto de ter tido o apoio do PS). Curiosamente, as últimas sondagens parecem alicerçar a convicção de Alegre, dando melhores resultados ao poeta numa segunda volta com Cavaco do que a Soares.
Entretanto, no PCP, José Saramago também está a provocar alguns engulhos no PCP. O Prémio Nobel da Literatura declarou há pouco tempo, insolitamente, que apoia tanto Jerónimo de Sousa como Mário Soares, o que desagradou a muitos militantes comunistas. Esta semana, num encontro fortuito de rua foi notória a frieza entre Saramago e o candidato da CDU, Ruben de Carvalho, tendo de ser o independente Corregedor da Fonseca a nota de simpatia perante o escritor. Refira-se que Eduardo Prado Coelho também opinou, esta semana, na SIC-Notícias sobre a “duplicidade” do escritor ao apoiar simultameamente Jerónimo e Soares, considerando que o escritor se tem afastado gradualmente do PCP ortodoxo, aproximando-se do PS.|