Poucos acreditavam que José Ribeiro e Castro, depois de ver boicotada a sua direcção pelos “portistas” e de uma disputa tão crispada com Paulo Portas pela liderança do CDS, estaria disponível para o combate político ao lado do actual líder.
Poucos acreditavam que José Ribeiro e Castro, depois de ver boicotada a sua direcção pelos “portistas” e de uma disputa tão crispada com Paulo Portas pela liderança do CDS, estaria disponível para o combate político ao lado do actual líder. Mas a verdade é que está: “Portugal está saturado do eng. José Sócrates e eu não tinha o direito de recusar este combate”, justifica. Sobre a governação do País, avança que um Governo composto por PSD e CDS é a solução que melhor garante a governabilidade e que Portugal precisa de um “choque político saudável”, que significa um CDS com 30% de votos – um cenário que considera, para já, ainda longe.
Rui Moreira, no seu livro “Uma Questão de Carácter”, diz que o Porto se “apagou bruscamente”. Como é que isso aconteceu?
Tenho uma grande admiração, estima e amizade pelo Rui Moreira. Compreendo o seu ponto de vista, ele é um grande lutador pela afirmação do Porto e da sua região, e às vezes faz uns diagnósticos fortes que não podemos analisar isoladamente e fora do propósito: um despertar do Porto para maiores desígnios. Mas é verdade que há uma questão da administração pública que está encravada, é verdade que o Governo Sócrates tem sido o mais centralista de que há memória e isso apaga a pujança e a presença da cidade no contexto nacional, também é verdade que se anunciam projectos lesivos para a região norte como a subordinação do aeroporto Sá Carneiro a uma dita estratégia aeroportuária nacional que mais não visa do que criar espaço para a afirmação única do novo aeroporto de Lisboa… O País não cresce numa lógica unipolar, pelo contrário. Terá mais capacidade de crescimento numa lógica bipolar, em que a região do Porto é importante e tem dinamismo.
O seu partido tem defendido uma redução generalizada dos impostos. Não é irresponsável diminuir a receita quando a dívida pública está tão elevada?
O CDS tem isso presente. Recordo que defendi durante muito tempo que devia haver um pacto sobre a despesa pública, em que ela não devia ultrapassar 40% do PIB. E isso porque acredito que enquanto não conseguirmos esse objectivo não crescemos. O CDS diz que nós temos uma carga fiscal acima das nossas capacidades, o professor Medina Carreira denuncia-o muito vezes. E a realidade é que Portugal não cresce.
E não cresce porque há demasiados impostos?
Também por isso. Não é a única causa mas será uma das principais. O nosso País é como um corredor sobre o qual se coloca duas bilhas de gás às costas e ele não consegue bater recordes. E assim está a nossa economia. Somos um País que precisa de correr aceleradamente para convergir com os patamares médios da União Europeia, mas temos vindo a divergir continuadamente. Tenho chamado a atenção que o País, mesmo fora de um cenário de crise internacional, não cresce.
Mas se cortamos nas receitas o Estado não vai poder levar a cabo as suas políticas de investimento público ou de apoio social.
Temos de fazer uma análise clara daquilo que podemos. Esta não é uma questão apenas ideológica, também é de doutrina. Há uma frase de Thomas Jefferson da qual gosto muito: “Um Governo suficientemente grande para te dar tudo o que queres é um Governo suficientemente poderoso para te tirar tudo o que tens”. E no relacionamento que temos com o Estado é preciso ter sempre isto presente, se queremos um Governo opressivo, que pesa e que impede, do ponto de vista económico, a nossa capacidade de crescimento. Não vamos resolver nenhum dos nossos problemas de pobreza ou de desigualdade se não crescermos mais economicamente. E também não vamos ser capazes de satisfazer as despesas com as políticas sociais se também não crescermos mais.
E como é que vamos crescer mais?
Se o País crescer mais, com taxas mais baixas de impostos, arrecada mais e tem mais capacidade financeira. Os tais 40% do PIB são mais altos do que 50% de um PIB baixinho. Não se pode responsavelmente reduzir impostos que levem o défice a disparar e viessem agravar a dívida pública. Por isso, é preciso agir sustentavelmente sobre a despesa. Mas nós somos um partido que está do lado do contribuinte, das famílias e das pequenas e médias empresas. Primeiro, porque achamos que as pessoas sabem melhor do que o Estado o que fazer ao seu próprio dinheiro; segundo, porque achamos que isso é um estímulo importante ao seu sucesso; e terceiro, porque sabemos que em termos macro isso conduz a uma capacidade de crescimento superior. O objectivo da redução de impostos exige que previamente se actue sobre a despesa, com o seu controlo e redução.
O PS diz que o País cresce através do investimento público. Concorda com esta visão?
Não tenho nada contra o investimento público. Mas depende, desde logo, da oportunidade. Em termos de grandes obras há circunstâncias de contenção financeira que podem determinar, só por si, que um investimento se suspenda. Depois há investimentos que são puras megalomanias e que vão deixar um fardo sobre as gerações futuras. Como é que se pode apresentar às gerações vindouras, em nome do futuro, dívidas e hipotecas? Isso é inaceitável. O investimento público que, neste tempo de crise, seja dirigido à criação de emprego é bem-vindo, como também o é aquele que tenha reflexos positivos sobre a economia ou que se traduza na concretização de questões de soberania. Mas encarar o investimento público como solução salvífica é um erro.
O CDS, hoje, é um partido menos conservador, em termos de costumes, que o PSD? Temos visto o PSD encabeçar a luta pela família tradicionalista…
O CDS não tem essa crise de identidade e eu não vou entrar nesse tipo de apreciações. O CDS é um partido de direita, que sempre defendeu os valores da família e não tem nenhuma angústia nessa matéria. Não se embaraça se lhe chamarem conservador, temos, até, relações excelentes com o partido conservador britânico. Mas esta eleição, para nós, joga-se, sobretudo, nas questões que têm que ver com a economia, emprego, impostos, o clima de insegurança que cresceu no País… As questões fracturantes foram inventadas por José Sócrates para poder ir a reboque da agenda do Bloco de Esquerda e distrair os portugueses. José Sócrates tem de responder por aquilo que fez de mal e, sobretudo, pelo que prometeu, anunciou e não fez. Veja agora o caso TVI, que também é uma distracção das questões da agenda real.
O que pensa sobre o caso TVI?
Acho absolutamente inaceitável o que se passou. Para mim, não tenho dúvidas que é este PS que está na origem dos factos e que houve uma pressão política – pública, aliás. É um caso de assédio político e moral tão claro, tão dirigido e continuado que eu diria que se inverteu o ónus da prova e compete ao PS demonstrar que não tem nada que ver com aquele assunto. Quando é evidente que tem – o que é gravíssimo. Um partido que se relaciona com a comunicação social a este limite extremo, com tiques latino-americanos do pior, como a confrontação directa com órgãos de comunicação social, comum em Países como o Equador de Rafael Correia ou a Venezuela de Hugo Chaves.
Ou a Madeira de Alberto João Jardim ainda neste fim-de-semana.
Tem aspectos criticáveis, mas assumem uma natureza diferente. Não me recordo de em Portugal, a não ser no PREC, terem sido fechados jornais. É evidente que há sempre uma tenção entre políticos e a imprensa, mas este limite nunca foi atingido.
Não é o PS o partido que sai mais prejudicado com o fim do jornal de sexta-feira da TVI e com as suspeições que esse fim acarretou?
Não. Isso é uma leitura ardilosa de “virar o bico ao prego”. A direcção da informação da TVI demitiu-se, a Manuela Moura Guedes foi tirada do ar, o jornal foi cancelado, a redacção da TVI está em polvorosa… As vítimas são estas. Este caso é seríssimo, merece muita atenção, mas não é o caso principal da campanha – não nos podemos distrair.
Esta campanha está cheia de casos e a assumir contornos de alguma imprevisibilidade.
A estratégia dos casos e dos incidentes favorece quem tem coisas a esconder: o agravamento dos impostos, do desemprego, o empobrecimento e endividamento das famílias, as empresas que estão a fechar… Estas são as questões que devemos discutir.
Surpreendeu-o o facto de Maria José Nogueira Pinto integrar as listas do PSD à Assembleia da República?
Não quero comentar. Foi uma decisão pessoal que tomou. Tinha saído do CDS em circunstâncias que lamento muito e que vivi intensamente. Mas não quero falar sobre isso.
Com que resultado eleitoral do seu partido, no dia 27 de Setembro, o dr. José Ribeiro e castro ficaria satisfeito?
Com o crescimento do CDS. É indispensável para o País um crescimento forte do CDS. Portugal não resolve duradouramente os seus problemas enquanto não fizer claramente uma viragem à direita. O País, na última década, tem decrescido, perdido competitividade, capacidade de afirmação. Éramos o décimo quinto de uma Europa a 15 e agora caminhamos para ser o vigésimo sétimo de uma Europa a 27. Já só temos como companheiros na UE países que sofreram o domínio comunista dos pais, irmãos, primos do PCP e do Bloco de Esquerda. O País afastou-se e deixou de cultivar um conjunto de valores que são importantes e que o CDS, como um partido de direita e do centro direita, guarda dentro de si.
O objectivo do CDS é, portanto, ficar à frente das forças mais à esquerda da política nacional?
O nosso objectivo é crescer e contribuir para uma alternativa ao Partido Socialista do eng. José Sócrates. Mas a necessidade do País é muito mais forte do que isto. No meu entender, o Pais precisa de um choque político que passa por uma forte votação no CDS. Só uma forte votação no CDS representa o choque político saudável de que o País necessita. E acredito no efeito automático desses resultados, acredito no poder do voto do eleitor e naquilo que se dizia a seguir ao 25 de Abril: o voto é a arma do povo. Não é esse o nosso objectivo, mas ninguém tem dúvidas de que se o CDS tivesse uma votação de 20, 25 ou 30 por cento, produziria um choque político saudável no País, no ambiente mediático, cultural ou político.
Paulo Portas aconselha “prudência, cautela e caldos de galinha” relativamente ao PSD. Continua a achar que a única solução que garante a governabilidade é um governo PSD/CDS?
Nunca formulei assim esse juízo, mas estou de acordo com essa conclusão. A solução que permite tirar o País da situação em que está é uma maioria do centro-direita, com uma componente clara do CDS. Somos conscientes, temos noção das realidades e temos humildade, sabemos que a mudança não se faz só connosco, mas estamos plenamente conscientes de que não há mudança sem nós. Os problemas do País não se resolvem apenas na próxima legislatura, Portugal tem de entrar noutra rota. Vivermos completamente debruçados sobre a esquerda é desastroso. Vivemos imersos num banho cultural de valores esquerdistas que são um atraso de vida.
Jerónimo de Sousa acusa José Sócrates de governar à direita.
Isso é uma fantasia. Como é que o País é governado à direita? Portugal, nos últimos anos, nunca foi governado à direita. Mesmo quando o CDS esteve no Governo a governação não se regia pela nossa partitura.
O que pensa do Bloco Central?
É sintomático que tenha aparecido vozes a falar do Bloco Central, um defunto pouco glorioso que só continuou na política dos interesses. O Bloco Central fortalece a minha convicção de que o voto verdadeiramente seguro para quem quer uma mudança relativamente à governação Sócrates é no CDS. Se Sócrates com um partido incomoda muita gente, com dois incomoda muito mais. É preciso dizer não a esse tipo de solução.
Como é que o CDS consegue afastar o apelo ao voto útil no PSD?
Com a sua própria capacidade de afirmação e com a utilidade do voto no CDS. O partido representa uma cultura económica, social ou cultural completamente diferente.
O CDS tem por hábito ser um partido de rupturas internas. Depois de uma campanha interna muito crispada e de metade do partido ter boicotado a sua liderança, o senhor decidiu ficar e disponibilizar-se para o combate político. Por que razão?
É verdade, como diz, que o CDS não tem tido a capacidade, em muitas das suas lutas, de guardar toda a gente dentro de si. E creio que isso é um factor negativo. O que aconteceu foi que o dr. Paulo Portas entendeu convidar-me para integrar as listas do partido e eu aceitei. Em matéria de união do partido e de capacidade de combate do CDS num momento que é muito importante – não só para o CDS mas essencialmente para Portugal – Paulo Portas fez a parte que lhe competia ao convidar-me e eu fiz a parte que me competia ao aceitar o convite. Acredito que nós iremos tanto mais longe quanto cada um resolver entender o que isto é e fazer a sua parte. Portugal precisa de uma mudança, quer mudar, está saturado do eng. José Sócrates e eu não tinha o direito de recusar este combate tendo sido convidado pelo presidente do partido. E faço-o com gosto.
Quando Paulo Portas for embora da liderança está disponível para regressar à presidência do CDS?
Temos, nesta altura, um combate político muito importante e é nisso em que estou totalmente concentrado.