Paulo Portas, líder do CDS/PP, manifesta-se convicto, em entrevista ao SEMANÁRIO, de que Freitas do Amaral, ao pedir, agora, a maioria absoluta para o PS, se vai enganar de novo, recordando, com efeito, que há três anos também se enganou, ao pedir, desta vez, a maioria absoluta para o PSD.
Paulo Portas, líder do CDS/PP, manifesta-se convicto, em entrevista ao SEMANÁRIO, de que Freitas do Amaral, ao pedir, agora, a maioria absoluta para o PS, se vai enganar de novo, recordando, com efeito, que há três anos também se enganou, ao pedir, desta vez, a maioria absoluta para o PSD. Ironizando a este respeito, Paulo Portas salienta que os portugueses já perceberam “que não é possível saber qual será a próxima mudança de opinião do prof. Freitas do Amaral”.
Qual o grande objectivo eleitoral do CDS/PP? Será que continua a ser os tão desejados dois dígitos? Recordo-lhe que as últimas sondagens são pouco animadoras…
São os dois dígitos, sem dúvida alguma. O CDS está habituado a sondagens pouco animadoras, como lhe chama, porque somos sempre subestimados. Em 2002, atribuíam-nos entre 4 e 6 por cento das intenções de voto a uma semana das eleições. Os portugueses, na hora da decisão, deram-nos 8,7 por cento. Agora, as sondagens atribuem-nos substancialmente mais, para além de se verificar uma clara tendência de crescimento, o que já é uma mudança significativa. Mas o CDS não faz como outros, que exigem votos aos eleitores. O CDS está a procurar fazer uma campanha pela positiva, onde apresenta a obra feita, a sua marca no Governo, onde demonstrou ser um partido estável, leal e, permita-me dizê-lo, competente. Um partido útil que defende valores essenciais para Portugal. Valores como o Direito à Vida ou a redução dos impostos sobre a classe média, que podem ser postos em causa pelas forças de esquerda, nomeadamente pelos comunistas e pela extrema-esquerda radical. Votar CDS é evitar um governo condicionado por esses partidos e é por isso que eu peço aos eleitores que dêem mais força ao CDS. Com mais força podemos fazer mais pelos portugueses.
As suas convicções num bom resultado eleitoral para os democratas-cristãos talvez se expliquem pela circunstância de haver muita gente de direita que está descontente com o PSD, mas que, por ser de direita, não quer votar PS e votaria CDS/PP…
Há um equívoco na política portuguesa que é preciso contrariar, a bem da democracia. Que eu saiba, nenhum partido é dono dos eleitores, nenhum partido foi a um notário registar a propriedade de um voto. Na minha opinião, não existem eleitores de partidos, existem eleitores livres que decidem em quem votam. Mas respondendo à sua pergunta, no caso que refere, são sempre votos que não se perdem, que ficam em casa, na área do centro-direita. E isso é muito útil a Portugal. Tendo o CDS 10 por cento dos votos, como é nossa forte convicção, será sempre o PS e a extrema-esquerda quem mais perdem. Seja em Setúbal ou em Braga, no Porto ou em Lisboa, em Viana de Castelo ou no total nacional. Um deputado do CDS é um deputado a menos do PS.
Fez cair o Carmo e a Trindade com as suas afirmações de que o CDS/PP estaria disponível para entendimentos pós-eleitorais com o PS. Esqueceu-se que tem um acordo com o PSD?Não, não me parece que tenha caído o Carmo e Trindade. Nem sequer o Largo do Rato. Como me parece ser evidente para todos, o CDS foi e é um partido radicalmente leal. Em momento algum falei sobre entendimentos pós-eleitorais com o PS. O que eu disse é que há matérias em que existe há 28 anos um claro consenso nacional entre os partidos do arco da governabilidade – CDS, PSD e PS – que em nenhuma circunstância deve ser posto em causa. Como sejam a nossa presença na Aliança Atlântica ou na União Europeia. São consensos hoje felizmente generalizados na sociedade portuguesa. Felizmente, repito, já não estamos no PREC e esses consensos não podem ser condicionados por comunistas ou pela extrema-esquerda radical. O CDS é um partido responsável, um partido de Governo, um partido que não é bota-abaixo. Agora, o que é verdade é que o próximo Governo de Portugal não pode ser condicionado pela extrema-esquerda radical e pelos comunistas, que iriam pôr em causa esses consensos. Iriam arranjar novos problemas aos portugueses, quando os portugueses só procuram soluções.
Não respondeu à carta de Morais Sarmento, apenas para não criar polémicas com o PSD ou porque considerou-a despropositada?Não respondo a cartas que não me são dirigidas.
Não quis polemizar com o PSD, mas noto-lhe que o cabeça de lista por Braga deste partido, Luís Filipe Menezes, chegou mesmo a afirmar que um voto no CDS/PP era um voto em Sócrates…Não comento afirmações que não fazem qualquer sentido. Desculpe, mas o CDS está concentrado em fazer uma campanha positiva e jamais entrará em polémicas ou picardias políticas.
O acordo pós-eleitoral que o CDS/PP celebrou com o PSD é válido apenas com a liderança de Santana Lopes, ou, caso contrário, foi firmado entre os dois partidos, como instituições, e independentemente de qual seja a liderança dos social-democratas?Não comento cenários virtuais, como compreenderá. Não entro nisso. Sou presidente do CDS e o meu partido, como já provou, cumpre leal e escrupulosamente os acordos que assina.
Freitas do Amaral afirma, publicamente, que vota PS e pede a maioria absoluta para este partido. Com alguma ironia, o dr. Paulo Portas disse que ainda havia de ver Freitas do Amaral pedir a maioria absoluta para o Bloco de Esquerda. Acha que poderá ser mesmo assim?Tudo é possível, como eu disse. O Prof. Freitas do Amaral enganou-se nas últimas eleições, há apenas três anos, quando pediu a maioria absoluta para o PSD. Estou seguro que vai enganar-se agora de novo. Já o vimos em manifestações ao lado do Bloco de Esquerda e, por isso, o cenário que referi não é de todo despropositado.
Ao mesmo tempo que pede a maioria absoluta para o PS, Freitas do Amaral disponibiliza-se para uma candidatura presidencial, provavelmente com o apoio dos socialistas. Julga que Freitas do Amaral poderá derrotar Cavaco Silva ou qualquer outro candidato do PSD e do CDS/PP?Como lhe digo, os portugueses já perceberam que não é possível saber qual será a próxima mudança de opinião do Prof. Freitas do Amaral. Mas há um tempo para tudo e o tempo de hoje não é de presidenciais, mas de legislativas.
O programa de Governo do CDS/PP foi apresentado no passado domingo. Os democratas-cristãos defendem, nomeadamente, um choque de valores. Mas que valores?
Desde logo e em primeiro lugar, o Direito à Vida. Quem é pelo Direito à Vida, como princípio básico de civilização, sabe que o CDS dá uma garantia que mais ninguém pode dar: estamos unidos contra a liberalização do aborto e a favor da criação de condições para que as mulheres não tenham de recorrer ao aborto. Com humanidade e com a compreensão dos casos concretos, é evidente. A sociedade portuguesa precisa de valorizar referências e há, neste momento, uma espécie de relativismo ético que não abona ao estado do País. Mas o choque de valores proposto no programa do CDS vai mais longe: cada meta apresentada no programa de Governo corresponde a um valor acrescentado. Quando defendemos a redução dos impostos para os mais pobres, defendemos o valor da solidariedade. Quando defendemos políticas sociais e fiscais de apoio à natalidade e à maternidade, defendemos o valor da família. Quando defendemos a revisão da Constituição para introduzir mais modificações na legislação laboral, defendemos o valor do trabalho.
A revisão da parte económica da Constituição é uma velha aspiração do CDS/PP. Julga que a crise que atravessamos é, em parte, explicada pela actual Constituição?A revisão da parte económica é útil e necessária porque a Constituição não pode ser um programa político que impeça os partidos eleitos de cumprir os seus próprios programas eleitorais. Não pode impedir reformas que são essenciais para o crescimento económico e para o desenvolvimento sustentável, para tornar competitiva a nossa economia, para dar mais força às empresas, para criar mais emprego para todos.
“A nós não nos vão ver entrar em ataques
pessoais ou na baixa política”
O CDS/PP foi o único partido a apresentar a sua equipa governativa. Por que razões o fez?
Apresentar aos portugueses uma equipa de Governo é um acto de transparência democrática. Só desta forma os portugueses podem julgar, antes do voto, se os membros dessa equipa têm mérito profissional, experiência nos assuntos de Estado, se há coerência na equipa, se há consistência suficiente para quatro anos. Ao apresentar uma equipa de Governo, o CDS pôs as cartas na mesa. Os portugueses devem gostar de saber que o CDS apresenta como seu ministro da Economia um dos melhores gestores da nova geração em Portugal, como é o Dr. Pires de Lima. Ou que o ministro da Justiça que o CDS apresenta é um dos mais conceituados jurisconsultos portugueses, que foi presidente do Tribunal das Comunidades Europeias, como é o Dr. Cruz Vilaça. Os eleitores que votarem no CDS sabem quem é a futura ministra da Saúde, a Drª Maria José Nogueira Pinto. Não votam no escuro, sabem com o que contam. O que não se verifica no caso do PS que até pede uma maioria absoluta. Mas maioria absoluta para quem? Quem é que vai ser o futuro ministro das Finanças do PS? Quem é que vai ser o ministro da Economia? E da Saúde? Ninguém sabe.
Disse, há tempos, que o CDS/PP iria fazer uma campanha séria, pela positiva. Mas, o que se passa à sua volta, é precisamente o contrário: ataques pessoais, insultos vergonhosos, numa palavra, baixa política. Não lhe parece que as coisas estão a levar um rumo feio?
Como lhe disse, o CDS tem o sério propósito e vai contribuir para a elevação do debate político em Portugal. Não nos desviaremos um milímetro desse nosso caminho. A nós não nos vão ver entrar em ataques pessoais ou do que justamente chama de baixa política. Queremos contribuir para uma melhor imagem da Política e dos políticos.
Acha que este tipo de campanha, a que me refiro, poderá propiciar uma elevada abstenção no dia 20 de Fevereiro?
Penso que os eleitores não perdoarão e castigarão no próximo dia 20 de Fevereiro todos aqueles que entrarem nesse tipo de campanha. Espero, sinceramente, que os portugueses que pensam abster-se possam ter acesso à nossa campanha e ganhar a consciência do que estamos a procurar transmitir: uma campanha sem ataques pessoais, com apresentação de proposta viáveis e de uma equipa de Governo. Digo “possam”, porque espero sinceramente que os meios de comunicação social comecem a dar cobertura igual a todos os partidos e antena a todas as propostas eleitorais. Para que os portugueses não sejam discriminados entre os que têm TV Cabo e, por isso, podem assistir a debates e a programas interessantes, e os outros, os que só têm direito a uma programação que muitas vezes nivela por baixo e restringe o livre acesso ao debate de ideias.
Se das próximas eleições não resultar para o País um Governo estável, crê que a decisão do Presidente da República de dissolver o Parlamento cai pela base?
Naturalmente. A dissolução da Assembleia da República foi um acto falhado, tendo em conta que existia no Parlamento uma clara maioria parlamentar sufragada pelos portugueses. Mas, repito, o CDS não é um partido do bota-abaixo, é um partido de Governo que acredita na estabilidade e que tudo fará para que a estabilidade seja possível em Portugal. As legislaturas são para se cumprir.
Julga que, apesar da desilusão que há entre os portugueses, que os três anos de Governo do CDS/PP com o PSD foram uma boa experiência?Julgo que tiveram muitos aspectos positivos, nomeadamente no que diz respeito a reformas essenciais. Mas compreendo e aceito a desilusão dos portugueses. A legislatura não se cumpriu, Portugal e o Mundo viveram nestes últimos três anos uma grave crise económica. Mas, ninguém se pode esquecer: o Governo em que o CDS participou, dando o melhor de si mesmo, cumprindo os compromissos que assumiu perante os portugueses, herdou uma situação de descalabro orçamental e uma crise económica e financeira deixada pelo Partido Socialista. Uma situação que, pela primeira vez na história da integração europeia, levou Portugal a ser punido pela Comissão Europeia. Dadas as circunstâncias, compreendo a desilusão, mas não deixarei de procurar lembrar também a marca muito positiva do CDS ao longo dos últimos três anos e as nossas propostas para os próximos quatro.